sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Surpresas

A conversa já começou diferente. "Vem aqui em casa?” Ok e sem novidade nisso, a gente meio que se via bastante pra falar mal dos outros e tomar caipirinhas. Repito: sem novidade. Achei estranho a mensagem dizendo pra não aparecer com a cara toda falhada “mas faz a barba? Tá horrível essa bosta...” Eu hein, grossa.

Cheguei lá pelas 19h, hora em que Jess já tinha saído do banho e acertado as coisas no balcão da cozinha. Me respondeu a mensagem com “o portão tá aberto, só sobe”. Entrei e ela estava sentada numa distração mal fingida, num shortinho minúsculo que tinha sido uma calça jeans há 10 anos. Confesso que travei de leve mas postura sempre, filhão. “Se liga”.

- o-oi… trânsito tava foda…
- sempre esta, 'Rique. Vem cá – veio dizendo em minha direção num tom despreocupado, Andava devagar os poucos metros entre nós e eu “só tenta não olhar muito pras pernas, cara. OLHO, mantém no olho. Você consegue”. Parou a meio metro de mim. Eu meio sufocado, sabia o que tava rolando ali mas foi mais do que inesperado. Ensaiei uma passo pra trás e ela pousou, leve, a mão no meu braço. Parei o movimento de perna…:
- meio perto, um perigo isso. Eu sou um menino, lembra?
- não perto o bastante. Mas não vejo perigo e nem um menino. Hoje não tem jeito.
Rindo, aceitei tranquilo a mordida no meu lábio. Ainda rindo, agora os dois, andamos em quase desastre grudados buscando o apoio da bancada. Limões rolando no chão.

- Desde quando, Jessy? – mal digo entre um respiro e um beijo lento mas faminto. A verdade é que ambos queriam aquilo há meses mas algo nada concreto vinha impedindo.
- Desde AGORA ou há muitos dias. Importa? Calor... - a mão brincando na minha nuca quase arranhando e parando o movimento pra depois recomeçar…

Vou passeando as mãos pelo corpo sentindo alguns tremores, a cabeça arqueada pra trás pedindo beijos no pescoço (que não neguei mas pousava suave sentido a textura). “Desce” foi o que acho que ouvi, até hoje não tenho muita certeza. A mão foi escorregando em direção àquele paninho detonado e a ponta do indicador cai pra dentro na linha da cintura a brincar de um lado pro outro, fingindo que abre o botão e mudando de ideia.

- Você é muito errado, cara.
- Shiiiiu… to só começando. Hoje ninguém dorme.

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